Foco Narrativo
A obra é narrada em 3ª pessoa, por um narrador-onisciente, e por esse motivo o autor mistura a fala do narrador com a fala da personagem. Como exemplo temos o trecho a seguir, em que Pedro Bala, no reformatório, pensa em como estaria Dora, no orfanato feminino:
“[…] Ele precisa de movimento, de andar, de correr, para poder conceber um plano para livrar Dora. Ali naquela escuridão é que não pode. Fica inútil pensando que ela está talvez numa cafua também. Senta-se como pode. Ratos correm na cafua. Mas ele está por demais acostumado com os ratos, não liga. Mas Dora terá medo deste ruído contínuo. É de enlouquecer um que não seja o chefe dos Capitães da Areia. Quanto mais uma menina… É verdade que Dora é a mais valente de quantas mulheres já nasceram na Bahia, que é a terra das mulheres valentes. Mais valente mesmo que Rosa Palmeirão, que deu em seis soldados, que Maria Cabaçu, que não respeitava cara, que a companheira de Lampião, que maneja um fuzil igual a um cangaceiro. Mais valente porque é apenas uma menina, apenas está começando a viver. Pedro Bala sorri com orgulho, apesar das dores, do cansaço, da sede que aos poucos o aperta. Como seria bom um copo d’água! Diante do areal do trapiche é o mar, um nunca acabar de água.”
(AMADO, Jorge. Capitães da areia. 86. ed., Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 194.)
“[…] Ele precisa de movimento, de andar, de correr, para poder conceber um plano para livrar Dora. Ali naquela escuridão é que não pode. Fica inútil pensando que ela está talvez numa cafua também. Senta-se como pode. Ratos correm na cafua. Mas ele está por demais acostumado com os ratos, não liga. Mas Dora terá medo deste ruído contínuo. É de enlouquecer um que não seja o chefe dos Capitães da Areia. Quanto mais uma menina… É verdade que Dora é a mais valente de quantas mulheres já nasceram na Bahia, que é a terra das mulheres valentes. Mais valente mesmo que Rosa Palmeirão, que deu em seis soldados, que Maria Cabaçu, que não respeitava cara, que a companheira de Lampião, que maneja um fuzil igual a um cangaceiro. Mais valente porque é apenas uma menina, apenas está começando a viver. Pedro Bala sorri com orgulho, apesar das dores, do cansaço, da sede que aos poucos o aperta. Como seria bom um copo d’água! Diante do areal do trapiche é o mar, um nunca acabar de água.”
(AMADO, Jorge. Capitães da areia. 86. ed., Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 194.)